Tomografia post-mortem em Medicina Veterinária

Os exames de tomografia computadorizada foram introduzidos na medicina diagnóstica na década de 1970 com o intuito de estudar as estrutura do crânio humano. Porém com o avanço astronômico da tecnologia essa modalidade passou fornecer informações valiosas de todo corpo nas mais diversas especialidades. Na medicina veterinária o avanço não foi diferente, apesar de mais modesto. A tomografia ou TC também começou a se fazer presente na realidade de muitos colegas veterinários, mas até recentemente era empregada somente no diagnóstico de doenças em animais vivos.

No final da década de 1990 pesquisadores da Universidade de Berma na Suíça começaram a unir as modalidades de imagem com a patologia forense na tentativa de aprimorar o diagnóstico de lesões post-mortem e até mesmo na determinação da causa-mortis. Atualmente essa equipe de médicos forenses possui a maior e melhor infraestrutura no que eles mesmos passaram a chamar de Virtopsy (virtual + autopsy) e no Brasil, alguns anos depois, a Faculdade de Medicina da USP montou o seu próprio centro de necropsias virtuais, preferencialmente por alguns denominadas de necropsias minimamente invasivas.

Em 2015 eu e uma excelente equipe de médicos veterinários começamos os estudos em animais em parceria com a Faculdade de Mecidina da USP, a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootencia da USP. O principal método utilizado nas nossas pesquisas foi a tomografia computadorizada post-mortem (TCPM). Fizemos o estudo com diversos animais de várias espécies, cães, gatos, onças, macacos, etc.

Tomografia post-mortem.png

Aplicações da técnica

A TCPM vem se mostrado uma excelente ferramenta da Ciência Forense. Ela tem boa sensibilidade e especificidade na detecção de fraturas, acúmulos de gás em cavidades, alterações vasculares e também em cavidade torácica. Ao contrário da necropsia tradicional a TCPM pode ser feita de maneira minimamente invasiva, pois as únicas intervenções feitas nos cadáveres são para acesso venoso e arterial (para introdução de contraste) e pelas agulhas tru-cut para coleta de material para histopatologia.

A escolha do método de imagem não necessariamente deve ser feita em substituição à necropsia convencional, ela também tem sido demonstrada como um auxílio prévio aos patologistas ao executarem o exame necroscópico. Além disso, pode ser indicada nos estudos antropológicos forenses, pois já existem relatos de TCPM feitos em múmias.

Desafios

A execução de uma TC em cadáveres apresenta características diferentes dos exames em vivo. Apesar de podermos considerar algumas facilidades, como a não preocupação com a radiação ionizante no paciente, efeitos deletérios do contraste iodado e os artefatos de movimento, como da respiração, por exemplo, a administração de contraste em cadáveres é um dos maiores desafios dessa técnica.

Devido a ausência de um sistema vascular pulsátil a injeção de contraste venoso como é feito tradicionalmente não é suficiente para perfundir o corpo todo. Para isso, geralmente o que se tem feito é a dissecação da região inguinal e exposição dos vasos femorais para introdução de cânulas ou sondas. O corpo todo é perfundido através de equipamentos que podem ser bombas de circulação extra-corpórea, bombas de tomógrafo ou até mesmo máquinas específicas para esta função. O contraste utilizado é o mesmo que em pacientes vivos, porém ele deve ser misturado com alguma solução líquida ou viscosa que aumenta o volume final e produz o contraste desejado em todas as regiões do corpo.

Outro desafio observado na técnica é a curva de aprendizado dos profissionais. Quem interpreta os resultados da TCPM é sempre um médico (ou no nosso caso, um veterinário) radiologista, porém as imagens obtidas no exame nem sempre se assemelham com aquelas em que se está acostumado a ver. Naturalmente os fenômenos cadavéricos também são observados nas imagens e o radiologista precisa aprender a interpretá-los de maneira adequada.

Alguns pontos mais importantes que podem ser descritos é a quantidade de gás observada de maneira natural nos corpos submetidos à TCPM, bem como o aumento da densidade pulmonar devido à falta de expansão respiratória. Apesar disso, é perfeitamente possível contornar os desafios e realizar um exame com qualidade e alta capacidade de identificação de lesões.

Atualidade e o futuro

Atualmente, na medicina veterinária, os exames de TCPM tem sido aplicados praticamente só na área de pesquisa, mas, seguindo a linha da medicina, eu acredito que será possível encontrar centros de diagnóstico, clínicas e hospitais veterinários realizando esse exame num futuro não muito distante. Se você tem interesse nessa área me manda um email que posso te ajudar.

Profa. Dra. Laila Massad Ribas
Médica Veterinária CRMV-SP 18465